Um dia, de repente, ela notou num caroço ao lado do mamilo que quase parecia um segundo mamilo. Não lhe deu grande importância mas, ao mesmo tempo, ficou a pensar se não seria melhor ir ao médico. "Ouvimos tantas histórias" dizia-me ela, "que às tantas quando vamos ao médico nem sabemos se queremos ou não saber realmente o que é que temos!".
Apesar das histórias todas que ouviu, ela foi ao médico e, numa questão de minutos, também ela se tornou numa dessas histórias que ouvimos todos os dias. De ser apenas um caroço no peito, aquele segundo mamilo passou a ser uma nova perspectiva de vida, o inesperado, o desconhecido e, principalmente, o medo.
À velocidade da luz, o caroço foi retirado e a segunda operação foi marcada. Ainda sem se saber que caroço era aquele, foi marcada a remoção do peito na totalidade para uma semana depois porque, segundo o médico, "qualquer compasso de espera pode ser fatal".
A data da segunda cirurgia chegou, o peito foi salvo mas vários tecidos foram retirados e, só agora, segue tudo para análise detalhada. Agora, estamos todos às ordens do tempo.
No meio deste turbilhão todo, tem havido uma coisa que me tem deixado desconcertada: ela recusa-se a deixar que soframos com ela... Ela, que sempre esteve presente quando eu precisei de chorar, não deixa que ninguém lhe limpe as lágrimas agora... Ela, que sempre me apoiou quando me senti sem chão, não admite que ninguém caminhe do lado dela neste momento...
Apesar de me custar imenso, respeito a vontade dela e finjo que não sei de nada...
Há uns dias encontrei-a e vi que nesse dia ela não tinha posto rímel. Disse-me que não tinha posto porque ia ficar toda borrada quando começasse a chorar porque, inevitavelmente, chorava todos os dias. Meia-hora depois apareci ao pé dela com uma prenda: um rímel à prova de água, que a fez começar a chorar de imediato.
Não consigo imaginar aquilo por que ela está a passar, mas vou estar aqui até ao final do caminho. Nesse dia, nenhuma de nós se vai maquilhar... :)